A Rede Oblata Brasil lança a 5ª edição da Revista em quadrinhos “As Garotas do Hotel”, com o tema Saúde Mental.

Idealizada pelo Projeto Diálogos pela Liberdade, unidade Oblata em Belo Horizonte, as primeiras edições trazem a realidade das mulheres que se prostituem nos hotéis da chamada “Zona Guaicurus”. Em 2020, a revista amplia horizontes trazendo o tema Saúde Mental a partir das realidades de mulheres em contextos de prostituição atendidas pelas Oblatas no Brasil, incluindo Salvador (Unidade Força Feminina), São Paulo (Unidade Projeto Antonia), Juazeiro da Bahia (Unidade Pastoral da Mulher).

Este material socioeducativo e de sensibilização visa o enfrentamento do estigma sofrido pelas garotas de programa e destaca a situação de vulnerabilidade social. Busca também a conscientização sobre a realidade das mulheres, apresentando um olhar de dentro para fora, com empatia e respeito. A intenção também é empoderá-las com informação para que possam lutar por seus direitos humanos, frequentemente violados.

A proposta do mangá (palavra usada para designar histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês) surgiu em uma roda de conversa, em um diálogo que buscava compreender as demandas e coletar ideias do próprio público atendido para otimizar a comunicação. Dentre as sugestões, o mangá foi citado por uma das mulheres e acolhido pelo grupo como uma forma de levar informação e entreter ao mesmo tempo. Foi feita uma adaptação do estilo de ilustração, trazendo cores e personagens que nasceram com suas personalidades, descritas com as suas subjetividades e representando perfis diversos das mulheres. Por ter uma narrativa diferenciada dos mangás, optamos por usar o nome HQ (história em quadrinhos) ou revista em quadrinhos, sem perder de vista essa importante referência.

Todas as histórias trazem as vivências, falas das mulheres, percepções do cotidiano e experiências compartilhadas com um olhar empático. Foi muito importante também a sensibilidade do ilustrador Hilton Rocha, sempre em sintonia com a roteirista Nanda Soares, fundadora da Conectidea, que atuou na instituição por dois anos e depois vivenciou processos de imersão e acompanhamento para alimentar a criação de conteúdo para as cinco edições de “As Garotas do Hotel”.

O intuito era simplificar temas complexos e configurar um instrumento de comunicação para a aproximação na abordagem social, que é realizada pelas equipes Oblatas no formato de visitas aos locais de prostituição. O material também é compartilhado na acolhida (quando as mulheres se dirigem à sede da unidade) e utilizado nas ações de sensibilização social.

“A revista nasceu da escuta atenta aos problemas e sonhos das mulheres que acompanhávamos e da sua linguagem própria. Queríamos que elas fossem realmente as protagonistas. Tinha que ser através de uma publicação que retratasse suas realidade de maneira fiel e, ao mesmo tempo, com leveza. Houve criatividade, ousadia e o desejo de servir à causa dos direitos humanos dessas mulheres, comenta José Manuel Uriol, ex-coordenador do Projeto Diálogos pela Liberdade, que ajudou a articular meios para realizar este material.

1 – A Rua Guaicurus em Belo Horizonte, Brasil, fica no centro, perto da rodoviária e é a maior zona de meretrício do estado Minas Gerais.

Pré-lançamento com as mulheres assistidas

No pré-lançamento da HQ As Garotas do Hotel” – Especial Saúde Mental, as mulheres que são assistidas pela Rede Oblata tiveram acesso exclusivo ao conteúdo e expressaram seus sentimentos e avaliações sobre o tema e as histórias. Foram encontros on-line e conversas via chat que proporcionaram momentos importantes para consolidar esta imersão realizada com as mulheres, dando continuidade e legitimando o processo de escuta ativa, que nos permite criar junto com elas novas formas de comunicar.

Após o sucesso das edições, que alcançou a comunidade da Rua Guaicurus, fazendo com que as pessoas perguntassem pela próxima revista, comentando as histórias e até opinando sobre os assuntos, surgiu a ideia de trazer um tema central para a 5ª edição.

Segundo a coordenadora do Projeto Diálogos pela Liberdade, Carolina Paixão, “a ideia de trazer a saúde mental era uma questão latente entre as mulheres para poder falar sobre a questão do cuidado e desmistificar essa ideia de que quem procura um atendimento psicológico é quem é doido, só quem não consegue outra ajuda. Então, também trabalhamos esse medo de assumir que se precisa de ajuda e de compartilhar suas dores com alguém.”

A revista está disponível para download e pode também ser lida on-line.

Os exemplares impressos serão disponibilizados às mulheres assistidas pela Rede Oblata, parceiros e pessoas/organizações/coletivos que queiram trabalhar a temática e ter a revista como suporte (dentro da tiragem disponível).

Esta iniciativa confirma e fortalece o Carisma Oblata, que “sensibiliza, capacita e busca superar as aparências e os estigmas sociais, para se fazer acolhida e expressar respeito para com as mulheres mais vulneráveis em sua dignidade, onde se descobre um reflexo de Deus. Em meio às adversidades e conflitos, faz prevalecer o poder transformador da compreensão, do amor e da esperança.

Capa da Revista em quadrinhos As Garotas do Hotel - Saúde Mental

Confira alguns depoimentos das mulheres assistidas sobre a revista:

Conversas com a Pastoral da Mulher – Rede Oblata Juazeiro/BA:

“Achei a história muito legal. São as perturbações da gente. Irritação com o namorado, com os filhos, com as limitações da vida. Essa questão de tomar remédio, às vezes nem é preciso o remédio, pode resolver com o psicólogo.” (C.P.)

“Pra mim, saúde mental é estar tranquila, com amparo da família e dos amigos.” (I.L.)

“a pessoa tem que assistir um filme, mexer no celular… Eu faço por onde não me entregar. Tem dias que eu ligo o som, eu danço, eu choro, ando de bicicleta. Desse jeito, mas eu tenho que preencher o vazio. Se eu me entregar é pior.” (I.L.)

Conversas com Diálogos pela Liberdade – Rede Oblata BH

“De todas as revistas a que mais humanizou as meninas, a pegada de entender a realidade das meninas; a saúde mental está acima da demanda da saúde física. Colocou as meninas como pessoas acima de tudo.  As outras revistas sempre abordavam as questões dos hotéis relacionadas ao trabalho e essa falou da pessoa, de coisas que pode acontecer com qualquer um.”

Eu me senti bem, reconheci as meninas. Conscientização sobre a importância de escutar e atender na saúde mental. Amei o tema. São coisas do nosso cotidiano. Dependendo do que a pessoa ouve ela fica sem poder voltar a batalhar e com a depressão e as contas chegando.  E quando ela volta a trabalhar a fisionomia dela demonstra que ela não vai bem e acaba caindo nos antidepressivos e substâncias químicas. E é onde a clientela cai.”

“Já tinha visto as ouras revistinhas, todas relatam experiências nossas do dia a dia, mas essa faz uma troca de informação. A maioria de nós, o que uma passou todas vão passar. Quando passamos por algo constrangedor, um vexame, a gente fica sem jeito, envergonhada. Às vezes, não nem só pelo que as pessoas vão pensar, mas principalmente pelo que nossa família vai achar. Porque a gente chega em casa com dinheiro, presentes e cumprimos todas as nossas responsabilidades, mas ninguém pergunta como você consegue. Mas, a partir do momento que descobre o que a gente faz aí vem as críticas, a vergonha. “Ah! Eu não queria ter uma filha assim, uma sobrinha assim. Você podia ter buscado outro caminho”. Só que naquele momento o único caminho que eu achei, mais rápido e viável foi esse.”

Conversas com Força Feminina – Rede Oblata Salvador

“Amei essa revista 5, pois retrata a verdadeira história de vida da situação de prostituição, pois me veio até algumas lembranças minhas e de colegas. Aquela roda de conversas da revista parece muito com dona F. eu e S. que vende colar… e a da equipe que dá aula parece muito com o jeito de Iracema kkk… a minha memória veio sobre dividir os miojos. Já passei muito por isso.”  J.B.

Conversas com Projeto Antonia – Rede Oblata SP

“Achei bem interessante a realidade que a gente vive no dia a dia, eu e as companheiras de luta, é bem real mesmo, eu achei bem bacana. O tempo passa, algumas coisas mudam, mas a prostituição é sempre a mesma coisa. Conheço histórias de prostitutas de décadas passadas e vivendo o cotidiano hoje, as histórias só mudam de personagem, infelizmente é isso.” M. M. J.

“Eu li sim achei legal, porém tem algumas pessoas que tem doenças psicossomáticas causadas por anos de prostituição e muitas não têm noção disso, é triste. Aqui está normal, até tem poucas mulheres e o movimento está lento, mas ninguém sai sem nada. Muitas já estão acostumadas com a pressão e a necessidade e acho que essa pandemia para os pobres não fez muita diferença.”

Quando vc fala em doenças psicossomáticas, o que seria, pode explicar melhor?

“Doença causada por desordem emocional o corpo manifesta uma doença causada pela mente.”


Confira o Webinar de lançamento da Revista

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