Por Beatriz Paixão, OSR e Isabel Brandão

Celebramos, no mês de novembro, os 18 anos da criação da Rede Oblata no Brasil. É com alegria que compartilhamos a nossa história, que tem como compromisso, atuar junto às mulheres que exercem prostituição, no enfrentamento ao tráfico de mulheres para fins de exploração sexual e de sensibilizar a Sociedade e as Igrejas sobre essa realidade, muitas vezes, invisível.

Comemorar é também recordar o ano de 1935 marcado pela chegada das Irmãs Oblatas ao Brasil, vindas da Espanha. O início de nossos trabalhos se deu na cidade do Rio de Janeiro que, aos poucos, foram expandidos para outras cidades brasileiras. Nos primeiros anos, atuamos junto às meninas e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade, a fim de oferecer-lhes abrigamento em nossos Educandários. 

As atividades da Congregação continuaram se ampliando sem grandes sobressaltos até que, entre os anos de 1962 e 1965, o Concílio Vaticano II, considerado o grande evento da Igreja Católica no século XX, convidou todas as Congregações Religiosas a iniciar um processo profético de reflexão, o qual visava a revisão de suas origens carismáticas à correção dos rumos para melhor atender as demandas daquele tempo.

Assumindo sua “terra”, seu ponto de partida

Inspirado por aquele momento de atualização e abertura da Igreja, o Instituto das Irmãs Oblatas do Santíssimo foi retomando e assumindo sua “terra”, seu ponto de partida, como nos inícios de 1864: “abrir portas” para as mulheres que exercem a prostituição, apostando em sua dignidade humana.

Esse processo foi realizado nos 15 países onde estamos presentes, inclusive no Brasil. Começamos o caminho realizando encontros – muitos encontros – reflexões, debates, assessorias em Assembleias com uma dinâmica participativa que, a certa altura, contava também com a implicação de leigas e leigos.

A pedra fundamental do processo coletivo de integração e articulação das Unidades da Missão Oblata no Brasil ocorreu no ano de 2001, em um encontro assessorado pelo Pe. Inácio Neutzling SJ, cujo tema foi “Análise da Conjuntura”.  Nessa ocasião, confirmamos o que já percebíamos: a necessidade de ampliar o impacto social de nossos projetos de Missão. Despertamos para a necessidade de somar forças, articulá-los e dar respostas concretas em conjunto, à dura realidade de violação de direitos a que estão submetidas as mulheres que exercem a prostituição.

O desafio estava no ar

As bases – comunidades de irmãs e equipes dos projetos de Missão – movidas pela utopia evangélica da construção de um Reino onde todos e todas possam  desfrutar  de “vida de boa qualidade” (Jo10.1-10), assumiram o sonho de uma articulação e integração das quatro Unidades de missão do Brasil – Juazeiro da Bahia, Salvador, Belo Horizonte e São Paulo, em um encontro realizado em Salvador (BA),  nos dias 22 e 23 de novembro de 2003, quando se  discutiram  critérios e objetivos para começar a “balançar” a Rede Oblata. 

Nesse evento, percebemos que teríamos a oportunidade de criar uma comunicação interna para discutir temas comuns, trocar e partilhar experiências concretas, somar forças, firmar parcerias com outras entidades afins, conscientes de que seria um movimento a ser construído no caminho, nos desafios e conquistas da missão junto às mulheres.

Portanto, os 18 anos de articulação da Rede Oblata, que celebramos em 2021, nos convida a essa memória agradecida por todo processo vivido e fortalecido em dinâmicas participativas com muitas pessoas envolvidas e a implicação dessas mulheres. Caminhando junto a elas e atentas aos processos históricos patriarcais e às desigualdades de gênero que fomentam a injustiça social, especialmente para as mulheres, temos nos mantido constantemente desafiadas, interpeladas a dar respostas criativas e comprometidas com a realidade. 

Além disso, ainda que o território da prostituição seja específico em cada região, a integração das Unidades trouxe muitos benefícios, ou seja, possibilitou contar com uma equipe multidisciplinar continuamente formada por meio de leituras interdisciplinares e trocas de experiências, cujos principais   objetivos são ampliar o diagnóstico sobre a realidade prostitucional   e ouvir das mulheres as suas diversas realidades e experiências.  Através dessa ampla partilha de conhecimentos e sempre em sintonia com o rico material histórico congregacional, meticulosamente relatado por Antonia, nossa fundadora, foi possível construir uma proposta pedagógica que carrega no seu bojo, a ética do cuidado Oblata: ser sempre um espaço de acolhida e respeito. 

Sensibilizar a Sociedade e as Igrejas

Ao longo de nossa caminhada, constatamos que, dada a complexidade da realidade com a qual trabalhamos, seria impossível atender as demandas de nosso público, sem contarmos com as parcerias e a articulação com o Poder Público e Sociedade em geral, somando forças para defender e garantir os direitos humanos dessas pessoas. Para tanto, entendemos ser imprescindível , a fim de que tenham olhos atentos sobre as violências estruturais que maximizam os impactos perversos que o preconceito e a discriminação causam na vida da mulher que exerce a prostituição.

Ressaltamos que o processo de vulnerabilidade social desencadeado pela pandemia Covid-19, demandou toda a Rede a um grande esforço para dar continuidade aos nossos atendimentos. Impossibilitadas de abrir nossas sedes para acolhimentos presenciais, recorremos aos encontros virtuais. Por isso, foi possível atender mais de mil mulheres com as suas diversas demandas: cestas básicas, acesso a direitos socioassistenciais, psicológicos, entre outros. 

Por conseguinte, pela fé e ação social, a Rede Oblata trabalha para tornar mais justo e menos vulnerável o caminho de mulheres que exercem a prostituição e está sempre atenta a dar continuidade à inspiração e ao compromisso de nossos fundadores, Antonia Maria da Misericórdia e Pe. José Benito Serra:

“Se todas as portas se fecharem, eu mesmo abrirei uma”

Saiba mais sobre a MISSÃO COMPARTILHADA da Congregação das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor: